quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Os argumentos econômicos eleitoreiros de 2014.



Os argumentos econômicos eleitoreiros de 2014.
Delze dos Santos Laureano[1]

Existe toda uma manipulação de informações  tentando convencer a todo custo que o Aécio Neves é a melhor opção para ocupar o cargo de presidente da República a partir de 1º de janeiro de 2015. O salvador da pátria vem agora travestido de administrador eficiente e de homem preparado para fazer a melhor política econômica para o Brasil.
Sobre o combate à corrupção e eficiência administrativa, sob a máscara de homem probo, trataremos em outros textos. Sobre a economia trataremos agora.
Dizem que o povo tem memória curta, então cabe lembrar que no governo Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, houve a chamada privataria tucana. Houve a maior entrega dos bens públicos ao grande capital nacional e internacional o que manteve os gastos públicos por algum tempo, mas cerca de 170 empresas estatais foram vendidas a preço vil. A venda da Vale do Rio Doce, sob forte protesto popular, foi um crime até hoje não apurado devidamente. Em Minas o que fez o próprio Aécio e o seu sucessor com o chamado choque de gestão foi sucatear as empresas públicas e piorar ainda mais a prestação dos serviços públicos, especialmente a educação. Além de achatar os salários dos servidores estaduais diminuiu os cargos para os concursados. Os eletricitários, por exemplo, vêm denunciando as inúmeras mortes por acidentes de trabalho devido à terceirização dos serviços da CEMIG. Nos últimos 11 anos, mais de 110 desses trabalhadores foram mortos enquanto trabalhavam. Antes da terceirização não havia esse tipo de morte.
Por isso, neste pequeno artigo, quero tratar dos falaciosos argumentos econômicos que tentam dar crédito à candidatura tucana. Hoje mesmo já recebi diversas mensagens eufóricas dizendo que bastou o Aécio ir para o 2º turno e já o dólar teria baixado e as ações da Petrobrás subido.   Ora, simplesmente essas pessoas repetiram o discurso manipulador sem saber o que de fato isso significa. Os que postaram nas redes sociais os argumentos não são economistas e nem se deram ao trabalho de estudar mais a fundo aquelas informações.
Sabemos que índices e indicadores econômicos de risco são manipulados ao interesse dos grupos financeiros  internacionais de modo a assegurar os seus ganhos, pois detêm o poder de dizer o que será risco e para onde serão direcionados os investimentos de maior retorno. Mas os riscos avaliados pelos consultores contratados não levam em conta o custo social dos danos ambientais, da vida de camponeses sem terra para cultivar, do aumento do custo e da qualidade dos alimentos quando as terras são tomadas pelo agronegócio para exportação , das famílias sem casa que sobram nas cidades desumanizadas pela especulação imobiliária, das crianças sem escola ou com ensino de péssima qualidade, das mães desamparadas, dos doentes abandonados, da previdência social saqueada, do transporte público de péssima qualidade.
Entretanto, basta lembrar que economia significa a administração do lar, pois vem esta palavra do grego: norma (nomia) da casa (oikia). A economia não é ciência exata. É uma ciência social que não é nem mais nem menos importante do que as demais ciências. Não podem os economistas de plantão impor as suas verdades como querem. É certo que ninguém deseja o retorno da inflação ou o isolamento do Brasil no plano internacional, porque isso deixou de ser interessante até mesmo para o chamado mundo desenvolvido que há décadas atrás impôs aos chamados países subdesenvolvidos arrochos inflacionários mediante a cobrança de juros extorsivos nas dívidas contraídas em nome do desenvolvimento.
Mas o controle da inflação e as atividades econômicas nacionais não podem se dar à custa da dependência do país ao grande capital internacional. Esse que vem a muito saqueando a nossa força produtiva e esgotando os bens naturais para nos impor um único modo de vida vista como moderna. Chega de abaixarmos a cabeça para a lógica imperialista de mercado que parece ser invencível.
É o irritante e desgastado discurso sobre o humor do mercado, tão ao gosto dos comentaristas da mídia hegemônica. Tratam o mercado como um deus perigoso que deve ser alimentado e atendido em todos os seus caprichos, sob pena de descer sobre nós e nos destruir. Lembram-se do enorme zepelim da música Geni do Chico Buarque?
Um dia surgiu, brilhante,
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi  nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir.
O medo é o que nos fazer ceder às imposições absurdas ou condenarmos os mais frágeis a fazê-lo. Depois teremos a consciência de termos sido mais uma vez apenas seviciados.
Não temos outra saída. Neste 2º turno das eleições presidenciais de 2014 temos de tomar posição. No âmbito econômico, de um lado ficarão os que apoiam, conscientes ou inconscientemente, o velho liberalismo econômico ou o agora travestido, e também velho, neoliberalismo. Aécio Neves, filho da velha oligarquia agrária mineira é o que melhor representa esse projeto. Esses que irão afirmar que a iniciativa privada é a única capaz de gerar riquezas e desenvolvimento. O que não dizem é que a riqueza será somente para os mesmos ricos e privilegiados. Não dizem, sobretudo, que quando o mercado vai à bancarrota, sempre sujeito às crises que ele mesmo cria, é o Estado que arca com o prejuízo usando os recursos retirados da boca das criancinhas.
Do outro lado estarão, de mangas arregaçadas, os que acreditam na alteridade como respeito a todos os seres em igual dignidade, pessoas: independentemente da cor da pele, do lugar de nascimento – sudeste ou nordeste -, da idade e da cultura. Os que lutam por uma economia solidária e da necessária proteção da vida no planeta.
Esgotou-se o mito da autonomia individual (meritocracia), da linearidade da história (todos estaremos bem se seguirmos as regras que a modernidade e a ciência nos impõem) e do universal abstrato (idealismo) temas tão ao gosto dos defensores das políticas neoliberais. Temos de difundir a consciência de que só há vida em sociedade e que nenhum iluminado irá nos salvar de tanta iniquidade, se não formos capazes, nós mesmos em união, de construir uma sociedade justa, o que nos obriga, neste momento, para não retroceder, além de desconstruir os argumentos econômicos fundados em uma razão irracional, o compromisso de não assistirmos de braços cruzados a manipulação da informação.



[1] Mestra em Direito Constitucional pela UFMG; Doutora em Direito Público Internacional pela PUC/Minas; Professora – voluntária - de Direito Agrário na UFMG; Integrante da RENAP (Rede Nacional de Advogados Populares); email: delzesantos@hotmail.com.

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